Já imaginou como seria se você perdesse total ou parcialmente a visão, mesmo gostando muito de andar de bicicleta, ficasse sem uma alternativa para pedalar?
A Broder conseguiu encontrar uma forma de viabilizar estes passeios ciclísticos!
Desde fevereiro de 2020, a nossa equipe trabalha com uma experiência que se mostrou muito gratificante.
Trata-se da Bike Broder, no qual utilizamos uma bicicleta tandem para viabilizar passeios na área urbana de Curitiba com pessoas que possuam algum tipo de limitação, como baixa visão ou cegueira.
Temos, além da bike tandem, vários outros projetos e atividades, sempre com o propósito de inclusão na prática. É possível saber mais aqui, como quando a Broder foi estudo de caso no Congresso Brasileiro de Gerontotecnologia, e quando o aplicativo desenvolvido repercutiu no Startup Search Aging 2.0.
A seguir, contamos mais sobre como tem sido a evolução dessa atividade, bem como trazemos relatos das histórias reais de pessoas que receberam a companhia de nossos broders.
Confira agora!
O que é a bike tandem?
As bicicletas tandem têm pelo menos dois assentos, sendo possível que mais de um ciclista possa pedalar em conjunto.
Ainda relativamente raros no Brasil, mas populares em países europeus, apenas o ciclista da frente pode mover o guidão. Até por isso, o indivíduo é considerado como o piloto principal.
Além disso, no país, ainda poucas fábricas produzem esses modelos.
Bike tandem e inclusão
Existem competições para bike tandem, principalmente no paradesporto, onde o piloto é ‘vidente’ e o outro, em geral, é uma pessoa com deficiência visual, como mostra esta matéria do blog Vá de Bike.
Algumas competições abertas (ainda não o Brasil) têm uma categoria especial para as bikes tandem. São ainda usadas para cicloturismo e em passeios urbanos.
Para a segunda categoria, imaginamos o seu uso principal para nosso projeto. A bicicleta permite uma amplitude de distâncias e de experiências para pessoas com deficiência visual!
Nos inspiramos em iniciativas que ocorreram em Curitiba anos atrás, com apoio da Bicicletaria Cultural, bem como projetos como o KB2 – Olhos que guiam, de Campinas. Atualmente, temos uma parceria bem legal com o pessoal da Associação Além da Visão.
O começo do projeto Bike Broder
No final de 2019, começamos a buscar bikes tandem em Curitiba e, no final de 2019, recebemos uma oferta de uma usada vinda de um colega próximo.
De início, ela precisava de alguns reparos e, com empolgação, encaminhamos ela para a revisão geral e repintura. Após alguns dias, tínhamos um bike tandem para dar início ao nosso projeto!
Inclusive, entramos em contato com o pessoal do projeto RadarDV, que forma atletas com deficiência visual e guias. Lá, conhecemos o Roberto, que fez o nosso passeio inaugural no Parque Barigui, em dezembro de 2019 (foto).
Ele tinha 59 anos e não pedalava desde seus 25 anos, quando ficou cego. Durante o passeio, pudemos dar várias voltas pelo parque e aprender mais na prática.
O Roberto comentou algo que nos chamou a atenção. Ele conhecia muito bem o Parque Barigui, pois lá são realizados os treinos do Radar DV. Ele também comentou que pelo seu tamanho e acessibilidade, o Parque Barigui era muito visitado por pessoas com deficiência em geral.
Do parque para as ciclovias
Resolvemos junto com o Roberto encarar um desafio maior. Sair com a Bike Broder pelas ciclovias de Curitiba. Nosso primeiro roteiro teve início no Centro Cívico, passando pelo Bosque do Papa, seguindo até o Parque São Lourenço.
Em um segundo passeio, Eduardo e o broder Flávio se encontraram com o Roberto no ponto de ônibus do Centro Cívico. Estávamos muito ansiosos, pois nunca tínhamos pedalado em áreas urbanas com um ciclista cego.
Passamos por cruzamentos de ruas, seguimos pela ciclovia às margens do Rio Belém e resolvemos parar para explorar o Bosque do Papa, que Roberto ainda não conhecia.
Na sequência, seguimos viagem e fizemos uma parada na Américo Bikes (antiga Park Bike), que há décadas além de bicicletaria, mantém um escola para ensinar pessoas de todas as idades a pedalar.
O próprio Américo deu todo apoio ao projeto, nos oferecendo água, bananas e bom papo. Em seguida, percorremos o São Lourenço que o Roberto já conhecia pelos treinos de corrida.
Lá, fizemos essas fotos que publicamos em nossa página do Facebook, registradas pelo cicloativista e fotógrafo Doug, que fez um belíssimo trabalho.
Em um novo passeio, fizemos o mesmo percurso do primeiro, mas dessa vez fomos até a Ópera de Arame. Os passeios sempre terminaram ao deixarmos o Roberto no ponto de ônibus, como combinado.
Outro passeio muito bacana que fizemos foi com o Gilberto, que tem baixa visão. Eis que pelo caminho ouvimos o som de um Hot Rod (carro modificados das décadas de 1910 a 1920) e, ao invés de seguirmos pela ciclovia, paramos para o Gilberto, que sabe tudo sobre carros da Ford, poder apreciar uma exposição de carros antigos (foto).
Bike Broder, avante!
A Broder fez um parceria com o Instituto Paranaense dos Cegos (IPC), que nos cedeu temporariamente sua bike tandem para o projeto da Broder Bike.
Oferecemos gratuitamente, para pessoas cegas e de baixa visão que moram em Curitiba e arredores, semanalmente, passeios com as nossas duas bikes tandem.
Para turistas, oferecemos também o passeio de bike tandem por Curitiba, com um broder conduzindo o passeio (duas hora de duração), a um custo acessível.
Paralelamente, estamos em contato com várias outras pessoas e organizações, para podermos ampliar cada vez mais o número de bikes tandem, guias voluntários e pessoas com deficiência visual atendidas.
Ah, é possível chamar a companhia de um broder para outras atividades externas, como idas a consultas, compras em feiras e até caminhadas no parque!
Esperamos também colaborar e trocar ideias com outros projetos semelhantes no Brasil e no mundo. Avante, inclusão e acessibilidade sempre!