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Como funciona o processo de aprendizagem de um familiar idoso com novos aplicativos?

Por Gabrielli Cruz A utilização do celular por familiares idosos e o seu desejo pela independência e domínio de tecnologia  tem aumentando diariamente de forma contínua e rápida.  Esses recursos estão inseridos no cotidiano de todas as pessoas, independente de sua faixa etária e são mediadores de toda a nossa interação social.  Dessa maneira, o conhecimento e prática das ferramentas de tecnologia é decisivo para a vida em sociedade, ainda mais durante um período de distanciamento físico como foi  o gerado pelo Covid. Levando em conta esse contexto, é de se esperar que o número de pessoas idosas interessadas em ter maior autonomia no uso de aplicativos e na própria internet tenha aumentado durante e após a pandemia, não é mesmo? Compartilhamos alguns dados muito interessantes sobre esse novo comportamento digital das pessoas idosas.  Muitas pessoas mais jovens acreditam que a idade avançada seja um fator limitante para aprender novos conhecimentos, porém uma pesquisa feita pela empresa Integrar Gerações provou justamente o contrário. Quem imaginaria que 53% das pessoas 60+ com acesso a internet participaram de aulas online durante a pandemia?! Do ponto de vista científico, nós seres humanos somos capazes de aprender até o último dia de nossas vidas, pois nosso cérebro é um órgão adaptável que pode ser moldado por estímulos (aulas, vídeos, tutoriais, por exemplo).  Dando um breve contexto científico, isso se deve à plasticidade neural, onde podemos comparar essa modulação com o que ocorre em nossos músculos, os quais podem ser modelados pelo exercício.  Como o cérebro funciona a partir dos neurônios (células cerebrais), os quais se conectam uns aos outros para consolidar um aprendizado, à medida que aprendemos, novas conexões são formadas entre as células, proporcionando mais sinapses para fortalecer as conexões geradas. Vou te dar um exemplo mais prático sobre como isso acontece com alguém que tenha +60 anos. Quando uma pessoa idosa está aprendendo a mexer em um aplicativo no celular, na primeira vez os neurônios disparam um sinal entre si, ativando as áreas cerebrais relacionadas à aprendizagem Entretanto, se nunca mais praticar, as sinapses envolvidas diminuem e consequentemente o aprendizado é esquecido Dessa forma, a repetição é extremamente importante no processo de aprendizagem, pois fortalece as conexões sinápticas que agora demandam maior esforço para fortalecê-las Vale ressaltar que as pessoas idosas têm capacidade cognitiva para aprender a utilizar novas tecnologias. Entretanto, existem diversas barreiras, sociais, culturais e pessoais para se cultivar uma maior autonomia digital.

Do analógico para o digital 

Com os avanços das ferramentas e aplicativos disponíveis na internet, as pessoas idosas se depararam com uma forma de se comunicar e informar predominantemente digital.  E se pararmos para pensar, é muito diferente da qual eram acostumados a vivenciar desde a juventude com a tecnologia analógica, na qual grande parte das atividades cotidianas eram realizadas presencialmente e que agora migraram para a dimensão digital. Como essas novas tecnologias para pessoas idosas não são “naturais” para essa faixa etária e eles não são próximos dela, os mesmos têm enfrentado muitos desafios nessa inclusão digital, sendo muitas vezes resistentes à mudança de hábitos e considerarem isso como uma ameaça. Além de tudo ser novo e se atualizar a cada instante, as empresas muitas vezes são compostas por pessoas que nasceram em um ambiente já digital, as quais geralmente não levam em consideração que as pessoas idosas vem de uma cultura diferente, dificultando ainda mais esse processo transitório.

O ritmo diferente de aprendizado das tecnologias por pessoas idosas

Somado ao desafio de superar a barreira cultural, observamos também um outro obstáculo, que é a diferente forma de aprendizado. Se é papel das pessoas mais jovens servirem como um suporte digital para as pessoas idosas, é de extrema importância que seja levado em conta o ritmo de aprendizado e a forma de ensino. Fatores que influenciam o aprendizado: 
  • Fatores emocionais: medo, frustração, receio e ansiedade; 
  • Fatores relacionados ao processo de envelhecimento: alterações nas funções cognitivas,  alterações sensoriais, déficits motores; 
  • Dispositivo tecnológico: tamanho, múltiplas funções, toque na tela (touch); 
  • Fatores de ensino: forma de explicações, linguagem, materiais de apoio; 
  • Fatores sociais: suporte social (familiares e amigos);
  • Fatores ambientais: barulho, iluminação, ambiente físico.
Em muitos casos, quando um familiar mais jovem ensina alguma nova tarefa sobre o uso de um aplicativo de interesse da pessoas idosa, é comum que a pessoa volte com as mesmas dúvidas dias depois. Isso pode gerar um sentimento de constrangimento no familiar com +60 anos e impaciência no mais novo, podendo fazer que o familiar acredite que não é capaz de aprender e que as tecnologias “não são pra ele/ ela mesmo”.

Entendendo melhor o processo de aprendizado de pessoas 60+ 

Você pode estar se perguntando: “Certo, mas como podemos superar esses obstáculos de aprendizado dos nossos familiares idosos?!” As pessoas idosas são capazes de aprender e se adaptar às novas tecnologias, e durante o aprendizado deve ser respeitado o ritmo individual que, muitas vezes, pode ser mais lento.  O ritmo diferenciado jamais deve ser confundido com incapacidade ou ser tratado com impaciência, pois isso pode provocar de certa forma a ansiedade frente ao uso, atrapalhando o processo de aprendizado.  A solução para muitos casos é a possibilidade de aprendizado baseado na apresentação por diferentes formatos das lições e as suas repetições. 
Isso é possível quando uma pessoa mais jovem oferece um número maior de explicações, expondo na prática como usar o aplicativo através de um passo a passo com apostilas, tutoriais e vídeos práticos, sempre com linguagem clara e objetiva. 
Reforçamos a importância dos materiais de apoio, como apostilas e vídeos objetivos com tutoriais, pois eles podem ser reconsultados sempre que a pessoa idosa tiver alguma dúvida, evitando qualquer constrangimento dela ou impaciência do familiar. Dessa forma, é possível respeitando o tempo de aprendizado e as necessidades da pessoa idosa, mostrando de fato que ele ou ela são capazes (mesmo!) de ampliar a sua autonomia digital.

Conclusão

É importante superar o estigma de que a aprendizagem de novos aplicativos e tecnologias por pessoas idosas é algo inexistente ou difícil. Nós, pessoas mais jovens, precisamos compreender que os mais velhos possuem sim a capacidade de aprender algo novo e precisamos assumir um papel de suporte digital mais presente em suas vidas. Sabemos que encontrar tempo ou paciência para ensinar podem ser opções desafiadoras para muitos, porém existem diversos cursos online ao vivo que são especializados em ensinar pessoas idosas. Dessa forma, se nós mesmos não podemos ensinar, podemos (e devemos) encorajá-los a participar desses cursos e ajudar a escolher os que realmente são sérios, confiáveis e que tenham uma metodologia realmente assertiva. Leituras complementares sobre cursos online de tecnologias para idosos que você pode se interessar: